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Pessoas com Deficiência e “Apelidinhos”

Escrito por: Andressa Batista

Para aliviar o que as pessoas acreditam ser o peso da deficiência, pessoas inventam formas de nos chamar ou de se referir a nós.

Elas dizem pessoas especiais em vez de pessoas com deficiência. Falam em cromossomo do amor ao falar de pessoas com síndrome de Down. Dizem que nós, que temos deficiência visual enxergamos com os olhos do coração. E no caso dos autistas, que também é uma condição minha, chamam anjos azuis.

Azuis porque durante muito tempo acreditou-se que a condição era predominante em meninos, ideia já bastante refutada mas que não é assunto pra agora. Anjos porque autistas seriam pessoas mais ingênuas. Pois bem, eu até acho que eu seja um pouco, mais (vou colocar a palavra devagar), que a maioria.

Mas… Olhe para você. Quantas vezes você já se deu o direito de ser apenas um ser humano nos últimos dias? Talvez tenha dito um palavrão para extravasar a raiva de alguma coisa. Pode ter tomado uma bebida no fim de semana para desestressar, como vocês dizem. De repente deixou que sua criança comesse um doce apenas porque mesmo sabendo que ela não deveria naquele momento você queria um tempo para não enfrentar a dificuldade de dizer mais um não que certamente mexeria com os nervos dela e seus. E nesses momentos você talvez até de forma inconsciente lembrou-se do quão ser humano você é e de quanto direito você tinha de ser.

Sim, eu sei que você pode querer me dizer que o apelidinho é mais específico pras crianças ou até mesmo para adultos que requerem um maior suporte, mas como eu já fui criança um dia, já deixo aqui meu argumento de que todas as crianças querem, precisam e merecem o direito de serem seres humanos. Elas querem tanto que muitas vezes fazem algo mesmo que um adulto já não tenha dado a permissão. Elas precisam porque é sendo um ser humano desde criança, que elas vão aprender que erros tem consequências, bem como merecem porque também tem o direito de saber que errar as vezes faz parte, e nem sempre significa que ela não foi competente o bastante. Assim também são os autistas adultos com grande necessidade de suporte.

Insisto: ensinar seu familiar se proteger, sim. desumanizá-lo, tirando dele o direito que você dá a si próprio, não sem razão, de ser apenas um ser humano, que erra, acerta e extravasa, não. Mas se ainda não fui suficientemente convincente, tenho uma última reflexão pra deixar em forma de pergunta.

Será que ao espalhar incessantemente que seu familiar autista é inocente, ingênuo e tudo mais, você não está sem querer estimulando a aproximação de pessoas mal-intencionadas?

Andressa Batista tem uma página onde compartilha sua vivência além de informações super relevantes e importantes sobre deficiências e pessoas com deficiência.

Facebook: Eu, cega e autista
Instagram: @eucegaeautista

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